SURF NAS LIXEIRAS DE ANGOLA

O embaixador de Portugal em Luanda, Francisco Alegre Duarte, defendeu que Angola tem um potencial imenso para o desenvolvimento do surf e poderia até acolher um campeonato dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Provavelmente nessa altura o reino do MPLA (no Poder há 50 anos) manterá a onda dos 20 milhões de pobres, mas o importante é mesmo o surf na CPLP…

Em entrevista a Raquel Rio da Lusa, a propósito da estreia do documentário “Virei”, que acompanha surfistas portugueses e angolanos na descoberta das ondas do reino do MPLA, Francisco Alegre Duarte – ele próprio, segundo a Agência de Notícias de Portugal, entusiasta da modalidade -, destacou as condições naturais excepcionais de Angola para a prática do surf.

“O potencial é imenso”, afirmou, recordando que tem tido oportunidade de descobrir o surf em Angola durante a sua missão diplomática. Assim, subscrevendo esta tese do embaixador luso, o general João Lourenço poderá dizer (continuar a dizer) que o MPLA fez mais em 50 anos do que Portugal em 500.

Não consta, nem tem que constar, que Francisco Alegre Duarte já tenha tido tempo para – como aconteceu com o surf – descobrir as lixeiras onde, diariamente, se alimentam milhões de angolanos.

O diplomata considera essencial desmistificar a imagem de Angola como um país “difícil, hostil e perigoso”, frequentemente retratado desta forma em alguns filmes que apresentam os surfistas como aventureiros destemidos em ambientes inóspitos, ao contrário de “Virei” que não pretende ser também um mero “panfleto turístico”.

É claro que o facto de Angola ter mais de 20 milhões de pobres, ter das mais altas taxas de mortalidade infantil, ser dos reinos mais corruptos do mundo, ter a malária como a principal causa de morte, não ter conseguido – ainda – ensinar os angolanos a viver sem comer, não faz com que – citando Francisco Alegre Duarte – seja um país “difícil, hostil e perigoso”.

“Virei”, realizado por Gustavo Imigrante, junta no ecrã Tiago Pires, consagrado surfista português, Joana Schenker, campeã mundial de bodyboard, e Samuel Januário “Quintino”, jovem campeão nacional de surf de Angola num filme em que o embaixador português destaca a “fraternidade” que se criou entre os três companheiros de ondas.

Francisco Alegre Duarte acredita (ou diz acreditar) que o documentário poderá atrair a atenção dos amantes do surf pelos “sítios fantásticos” que apresenta, com “ondas fabulosas sem ninguém”. Será desta que vamos ver os surfistas a brilhar nas ondas das lixeiras nacionais?

“Isso é o sonho de qualquer surfista. Há quem pague muito dinheiro para viajar milhares de quilómetros até destinos como a Indonésia ou as Maldivas e não encontra ondas desta qualidade, [em praias] completamente vazias”, destacou o embaixador, surfando a onda da propaganda do regime do MPLA, tal como fazia o seu pai (Manuel Alegre) antes da independência.

O embaixador lembrou ainda o impacto económico do surf, referindo que, em Portugal, o turismo ligado à modalidade já representa 500 milhões de euros anuais e sustenta milhares de empregos directos e indirectos. “Cidades como Nazaré, Ericeira, Peniche ou Sagres vivem essencialmente desta indústria”, apontou.

Lançou, por isso, um desafio: organizar em Angola o primeiro campeonato de surf da CPLP. Nem mais. É isso mesmo. Será, aliás, uma forma brilhante de mostrar ao mundo que os angolanos que morrem de fome e de doenças (malária, cólera, tuberculose etc.), antes de morrem estavam… vivos.

A modalidade tem forte implantação em algumas nações lusófonas, com destaque para o Brasil, uma potência mundial do surf, e Portugal, que integra o circuito internacional com a etapa de Peniche.

Cabo Verde também conta já com bastantes surfistas e, apesar de a prática ainda ser embrionária nos países africanos de língua portuguesa, um campeonato poderia contribuir para a divulgação do ecoturismo e estimular o crescimento do desporto em países como Angola, sublinhou.

“E há aqui também uma forma de nos juntarmos, de nos ajudarmos uns aos outros, de aprendermos uns aos outros, tanto em Portugal quanto no Brasil. Isto é um grande negócio, uma grande indústria”, frisou Francisco Alegre Duarte.

Já num encontro anterior com empresários, durante esta semana, em Luanda, o diplomata tinha apontado o potencial do surf.

“Portugal é uma potência mundial do turismo, com grandes grupos empresariais internacionalizados em diversos mercados, incluindo noutros pontos de África, mas com níveis de investimento muito modestos em Angola. Porquê?”, questionou Francisco Alegre Duarte, sublinhando que Angola pode criar condições para seduzir os investidores.

“O ecoturismo e o turismo ligado ao surf, por exemplo, podem ser o início do caminho para a aposta neste sector”, concluiu com raro brilhantismo intelectual o embaixador Francisco Alegre Duarte.

Folha 8 com Lusa

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